Endocrinologia

Prancheta 1

Prescrição de andrógenos na menopausa : Sim ou não ?

Prescrição de andrógenos na menopausa : Sim ou não ?

Apesar da crença de longa data de que o déficit androgênico está envolvido nas disfunções sexuais das mulheres, até o momento não há confirmação na literatura a respeito disso, visto que não há ensaios precisos para medir os níveis de metabólitos de andrógenos e refletir a produção endócrina com resultados na pós-menopausa. A suplementação de DHEA (Dehidroepiandrosterona) tem efeitos aparentes sem humor, sendo controversa para melhoria do desejo sexual, apesar de ser um androgênio fraco tem potencial de conversão em testosterona. O Departamento de Endocrinologia Feminina e Andrologia (DEFA) da Sociedade Brasileira de Endocrinologia (SBEM) publicou um Consenso em 2019 resumindo as evidências atuais a respeito da reposição de testosterona [1]. Posteriormente, diversas sociedades médicas internacionais uniram-se para publicar um Consenso Global sobre o mesmo tema [2], sendo que a conclusão de ambos os consensos é que a única evidência para administração de testosterona na mulher é a disfunção sexual com desejo hipoativo (DSDH ). Esse distúrbio, cujo diagnóstico é essencialmente clínico, devendo-se evitar dosagem de andrógenos para tal, é definido como deficiência ou ausência de desejo e/ou fantasias sexuais, gerando sofrimento na mulher [3].

Não existe, até o momento, nenhuma apresentação de testosterona disponível para reposição feminina no Brasil, exceto nas formas de gel ou de cremes manipulados. Entretanto, temos uma testosterona vendida na forma de gel ou injetável para homens, erroneamente utilizada por algumas mulheres. Contra-indicamos o uso de ambos no sexo feminino, pois são indicados ao uso exclusivo em homens devido às altas concentrações de testosterona nesses produtos, pois são indicados para o sexo masculino, sua utilização em mulheres afeta níveis suprafisiológicos, acarretando vários efeitos colaterais. Os efeitos adversos mais frequentemente observados são acne, hirsutismo, queda de cabelos além do agravamento de patologias pré existentes no metabolismo de glicose e lipídios com desencadeamento de doenças cardiovasculares.
Recentemente, devido ao uso estendido de implantes referenciais pela imprensa leiga com “CHIP da Beleza” contendo testosterona e instruções como a gestrinona, a Soc Bras de Endocrinologia através do Departamento de Endocrinologia Feminina publicou 1 posicionamento sobre o tema e aprovado pela ANVISA. Em resumo, o implante não tem autorização da vigilância sanitária para sua utilização, principalmente com finalidade estética. Segue abaixo o link para leitura na integração do posicionamento bem como a resposta da vigilância sanitária

 

 

CLhttps://www.endocrino.org.br/noticias/posicionamento-da-sbem-sobre-implantes-de-gestrinona-e-acoes-da-anvisa/.

 

Em conclusão, não recomendamos a reposição de testosterona na mulher com finalidade estética ou aumento da libido, exceto nas portadoras de disfunção sexual com desejo hipoativo, e nessa circunstância, é crucial o monitoramento da testosterona sérica para acompanhamento e segurança do paciente, sendo que seus Níveis fisiológicos (70 a 90 ng/dL) jamais deverão ser ultrapassados.

Referências:

1. Weiss RV, Hohl A, Athayde A et al. Terapia com testosterona para mulheres com baixo desejo sexual: posicionamento da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabolismo. Arch Endocrinol Metab. 2019; 63:1908.
2. Davis SR, Baber R, Panay N et al. Declaração de posição de consenso global sobre o uso da terapia com testosterona em mulheres. J Clin Endocrinol Metab. 2019; 104:46606.
3. Goldstein I, Kim NN, Clayton AH et al. Transtorno do desejo sexual hipoativo: revisão do painel de consenso de especialistas da Sociedade Internacional para o Estudo da Saúde Sexual da Mulher (ISSWSH). Mayo Clin Proc. 2017; 92:11428.

 

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